a r q u i v o

20.1.03

Bem, eu tinha apagado o post sobre o Huck Finn porque recebi visita de gente que caiu aqui por ter digitado no Google o nome do livro do imbecil que governou a alemanha na década de 30 e 40 e eu não estou a fim dessas companhias. Mas como depois vi que o Diego se referiu ao post pra falar mais coisas sobre liberdade de expressão, resolvi publicar de novo, modificando o último parágrafo. É, eu caí na minha própria armadilha, fiz auto-censura e voltei "tucanando" palavras, pra evitar companhias indesejadas, fazer o quê... por enquanto é isso mermo.

Toda hora acabo vendo partes de uma reportagem americana no GNT, que é recente e fala sobre a tentativa de proibicao nas escolas, por parte de pais de alunos, do livro As aventuras de Huckleberry Finn, do Mark Twain, classico da literatura americana.

Isso porque no livro o Huck Finn começa se referindo aos negros como niggers. Mas o Huck Finn é um moleque solitario, branco, do campo, de familia pobre, que acaba ficando amigo de um menino negro. A historia é essa, nao li o livro, mas acho que é isso. E o Mark Twain parece que sofreu criticas severas a esse livro, ainda quando estava vivo – ele morreu em 1910.

Na reportagem, uma mãe nao-branca (do jeito que os americanos encaram a cor da pele), mas que não é negra, deve ser sei lá, “latina”, porque nao me pareceu nem mulata clara, move uma acao na sua cidade, pedindo que o livro deixe de ser leitura obrigatoria nas escolas, ela nao quer que o filho leia o livro, porque o acha ultrajante (nao peguei em que Estado ela mora).

Ela perde a causa, porque afinal o juiz considera que o livro deve ser lido e discutido, mas ele decreta que qq escola que promover o racismo será multada. Essa mesma mãe aparece contando que tentou participar de uma palestra sobre o livro, na escola do filho, e, com lagrima nos olhos, conta que foi convidada a sair por professores e orientadores da escola (eles sabiam da ação que ela tinha movido pedindo a probicao). Ela se recusa a sair, dizendo que nao vai abrir a boca, mas que quer estar lá pra ver, e entao o pessoal da escola chama um guarda, e como ela ainda assim se recusa a sair, acaba saindo à força, algemada. Rolou um paradoxo. Uma sociedade que preza a liberdade de expressao quase acima de tudo, algema uma pessoa que está se colocando contra a liberdade de expressao. Ou seja, se voce é um cidadao que acha que a liberdade de expressao deve ter restricoes, pode acabar tendo sua liberdade de expressao restringida.

Tudo isso pra dizer que eles sao mesmo uma sociedade complexa e avançada, que tem fantasticas conquistas no campo da cidadania. Achei a polemica toda saudavel, mesmo porque eles estavam debatendo ideias de um jeito bem concreto e ativo, com vias de manifestacao super organizadas, coisa que nao rola em qualquer nação.

E daí pensei sobre o que devemos pensar sobre obras mais polêmicas ainda, do tipo que prega morte em massa. Devem ser proibidas? Ou devem ser lidas e discutidas? Acho que devem ser lidas e discutidas, porque acho que explorar um assunto difícil e ultrajante promove a consciência e fingir que não existe promove a ignorância e o medo.

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