a r q u i v o

24.6.03

ontem me vi na frente de um piçikólogo que pelejava para me enquadrar numa de 3 categorias, depressão leve, moderada ou severa. “estou triste, não em depressão”. ele me olhou como se eu tivesse dito uma palavra fora do dicionário. com olhos sem brilho e jeito burocrático, criticou a psicanalise e defendeu a psicoterapia rápida com remédios. eu disse que achava ridicula essa historia de patologizar as emocoes -- ficar triste virou doença, chorar é doença, sentir raiva é doença, dar um grito é doença. e pra cada uma tem um remedio bem caro na farmacia. piçikólogos costumam engolir pacotes de psicologismo, em geral americanos, sem mastigar. só que o país de onde vem esses modelos one-size-fits-all é rico e poderoso, de cultura protestante, de gente tensa e viciada em trabalho, que tem o dinheiro e o sucesso como valores primordiais. e como o piçikólogo vive a sonhar que está em miami, se esquece que trabalha no brasil, país de 3º mundo (ou emergente?), católico, onde o jeitinho e o “se dar bem” se misturam com a alma melancólica, a violência, o riso fácil, a covardia, o gosto pela novidade, o conservadorismo. pior de tudo é que a lógica do mau “profissional da psique” é sempre a mesma – o cliente nunca tem razão. se voce contesta as opinioes de um piçikólogo, não é porque ele pode estar errado e sim porque você ainda não percebeu que está doente.

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