Singapura é aqui

"Um bom lugar pra se encontrar, Copacabana
Pra passear, à beira-mar, Copacabana
Depois um bar à meia-luz, Copacabana
Eu esperei por essa noite uma semana
Um bom jantar, depois dançar, Copacabana
Pra se amar, um só lugar, Copacabana..."

a maria bethânia canta essa bossa nova do dorival caymmi enquanto a câmera vai dando uma vista aérea da praia de copabacana. quando eu vejo essa abertura da novela paraíso tropical me dá vontade de vomitar. não consigo imaginar algo mais kitsch e esquizofrênico, em dias de complexo do alemão, pan, e vôo 3054 da TAM. o rio de janeiro das novelas da globo é de vomitar. conforme o tempo passa e os tiroteios entre traficantes X traficantes ou polícia X traficantes ficam cada vez mais longos, mais violentos e mais normais pros cariocas e pra todo mundo, mais ficam escapistas e nostálgicas as aberturas da novela das 9 (e as novelas em si). fora o título: PARAÍSO TROPICAL não dá nem pra encaixar em algo estiloso, tipo, retrô, brega, boko-moko, cafona-engraçado, é deprimente mesmo. é patético. parece nome de drink barato, daqueles que deixam a língua tingida de vermelho. novela brasileira é pra gringo ver. é feita pra turba ignara do brasil e pra uma massaroca global que delira com esse "exotismo" de quinta categoria fabricado pela nossa TV. já pensou o que um título como "tropical paradise" não ativa na fantasia do hemisfério norte? "tropical paradise" tem tudo pra ser nome de puteiro e acho que a prostituta bebel e o cafetão jáder (camila pitanga e chico diaz em atuações incríveis, vale dizer) são as fichas de aposta na comercialização da fantasia do turismo sexual mundo afora.

* * *

a outra coisa que me dá vontade de tomar dois dramins de uma vez só é a fátima bernardes reportando o pan, de cabelo gatinho e sorriso colgate pregado na cara. parece que eu entrei no túnel do tempo e fui parar na década de 60. ou parece que eu vivo em singapura. só faltava ela anunciar, no intervalo, que a máquina de lavar roupa chegou para facilitar a vida da mulher moderna. e o uniforme azul-marinho-escola-pública que ela e os outros jornalistas pan-globais estão usando? quando eu vejo esse troço kitsch congelado no tempo me dá a sensação estranha de que eu ainda vivo na ditadura militar. aquela em que eu cresci. pobres apedrejaram ônibus de atletas, ambulantes foram escorraçados das ruas, ambulantes revidaram, milhares de pessoas vaiaram o lula no maracanã, milhares de agentes do FBI à paisana e milhares de policiais militares policiam as ruas, o céu foi interditado para vôos de helicóptero, só servem junk food na vila do pan, mas nada disso aparece na globo, porque ali o brasil é sempre bossa nova!