a r q u i v o

8.10.03

Mapa da Lua

Eu passava as férias em Poços de Caldas (ou Pó de Carda, em mineirês), na casa onde meu pai morou com os pais e irmãos dele até ir combater pela FEB, na Itália. A gente vivia pra lá e pra cá na cidade, passeando a pé com a minha mãe. Descendo a rua da nossa casa, tinha a oficina mecânica da incrível família mecânica, pai, mãe e filha, essa sempre vestida de macacão e suja de graxa, a Cátia. Acho que ela tinha uns dois irmãos menores, também pintados de graxa. Mais do que tudo, jamais vou esquecer o dia em que a Cátia apresentou seus três cachorrinhos malhados, Cóli, Ardrin e Mistrongui! Fiquei maravilhada, achando o máximo da ousadia e diversão ter cachorros com os nomes dos astronautas que eu tinha visto uns dias antes na TV, pisando na Lua, e que tinham se tornado meus ídolos instantâneos.

Eu também tinha 10 anos quando "o homem pisou na Lua". E foi uma das coisas mais marcantes da minha vida. Era julho, férias, mas a professora de artes levou uma TV pra escola e chamou quem quisesse ver. Eu quis, e me lembro que estava super animada, porque na minha casa meus pais e irmãos mais velhos davam uma importância grande pro fato. E lembro perfeitamente de mim mesma olhando as imagens na TV, assombrada, aquilo foi uma emoção e tanto.



É, mas no topo da lista está a brava vira-lata russa Laika, o primeiro ser vivo a ir pro espaço, em 1957.

Ela morreu lá mesmo, dentro da sua navezinha, que ficou orbitando mais de 100 dias em torno da Terra e pegou fogo ao reentrar na atmosfera.

Mas não é que algo saiu errado, os russos ainda não sabiam como trazer uma nave de volta ilesa, então a missão era essa mesmo: mandar a Laika pro espaço, monitorada através de eletrodos, só com passagem de ida. Grrr! Gente ruim!

Tudo bem, daqui a um tempo, quando a Terra for dominada pelos cachorros, eles vão tacar um humano dentro de uma nave pra ir dar uma volta em Plutão, ou Pluto, que é o planeta de origem dos cachorros (hehe, infame...).



"A Terra é azul!"

Impossível não lembrar dessa frase do Yuri Gagarin, depois da história do "The moon is flicts". Esse russo heróico foi o primeiro humano a enxergar a Terra de longe, de fora, e daí pra frente todo o mundo passou a ter na cabeça a imagem de uma Terra azul.

Isso foi em 1961 (oito anos antes do Armstrong botar os pés na Lua) e ele ficou uma hora e meia orbitando em torno da Terra. Na verdade, diz que as primeiras palavras dele foram:

"I see Earth. It's so beautiful!"

E o único trecho que eu achei da fala oficial dele ao chegar de volta descreve os tons da Terra de um jeito muito mais detalhado:

"On the 12th of April, 1961, the Soviet spaceship-sputnik was put in orbit around the Earth with me on board ... there was a good view of the Earth, which had a very distinct and pretty blue halo. It had a smooth transition from pale blue, blue, dark blue, violet and absolutely black. It was a magnificent picture."

Peguei no Komrade Cosmonaut, site enxuto e original.

7.10.03



Acho que não pensava em FLICTS desde que li o livro quando era criança. Lembra -- o FLICTS era uma cor tipo burro-quando-foge, que se sentia deslocada das outras cores:

"Não tinha a força do Vermelho
não tinha a imensidão do Amarelo
nem a paz que tem o Azul.
Era apenas o frágil e feio e aflito Flicts."

E no fim o FLICTS só se achou, só sentiu em casa, quando foi pra Lua, “porque a Lua era FLICTS”.

Lembro que esse livro me causou um impacto forte, porque as páginas eram ilustradas com listas enormes, de cores vivas, chapadas, e ainda por cima as tais listas eram os personagens, em vez de gente ou bicho ou fada.

Tudo isso porque hoje vi um documentário sobre o Ziraldo, na STV, em que a Daniela Thomas, filha dele, conta uma história incrível. FLICTS foi publicado em 1969, ano em que aqueles três americanos sortudos pousaram de foguete na Lua. Logo depois, o Neil Armstrong, o único que pisou em solo lunar, veio ao Rio, e por conta disso alguém sugeriu que se fizesse um único exemplar de FLICTS em inglês, para dar de presente a ele.

Assim foi feito e o Ziraldo então foi se encontrar com ele no Copacabana Palace, levando junto a Daniela, que tinha 10 anos. Entregaram o exemplar especial do FLICTS para o incrível Neil, a maior celebridade da época, que folheou pacientemente, lendo página por página. No final, ele fechou o livro, virou pro Ziraldo e disse:

“The moon is FLICTS.”

O Ziraldo ainda teve a presença de espírito de perguntar se ele podia escrever a frase que tinha acabado de falar, e assim ele fez, num exemplar em português de FLICTS, assinou, e ainda por cima sublinhou o verbo "is". Uau!





4.10.03

3.10.03

Róque tradicional tipo Strokes, White Stripes (ouvi faixas que são decalque de jimmy hendrix e rod stewart) tem força por que? Vai ver que é porque contrasta com aquela impessoalidade Grande Irmão da música eletrônica. Música eletrônica é música de ágoras, de desertos sem fronteiras no horizonte, roque é freguês de inferninhos e subsolos. Uma faz a gente desfrutar a libertadora perda de identidade, o anonimato, a impessoalidade, a outra faz a gente se agregar, se olhar olho no olho, se chamar pelo nome.

O rock punk também tem letras super explícitas, mas malemolência zero. As letras da neo-punk-sei-lá-mais-o-quê Peaches são até pornográficas, mas não têm charme nem ginga, é tudo de uma agressividade dura, que te deixa sério e tenso.

Rap tem a ver com calor na mesma medida em que melancólicos tipo Coldplay, Múm, Radiohead, Sigur Rós etc. tem a ver com o frio. Não dá pra ouvir essas músicas quando está calor, porque dá vontade de se enfiar numa toca e hibernar, não combina.

Pausa para pequenas rrrreflexões musicais...

Tenho ouvido rap / funk / hip hop, não sei direito o quê que é o quê (Funnypack, Snoop Doggy, Missy Elliot, DJ Marlboro) e agora percebo que antes não tinha paciência, porque só presto atenção em letra de música muito raramente. E rap é letra, óbvio, acabei de descobrir a pólvora.

As letras são engraçadas, politicamente incorretas, sexualmente explícitas, falam mal de gente famosa, gente feia, gente insossa, gente gorda, magra, peituda, sem bunda, com bunda, exprimem inveja, ciúme, ganância, rivalidade, narcisismo, sem o menor pudor, e falam de transas e amassos com todas as onomatopéias e suspiros, sem papas na língua. São puro charme e malemolência. E é uma música de bairro, de quarteirão.

2.10.03