“Amigos” (como diria o meu ídolo Nélson Rodrigues), estamos cercados de gringos beligerantes por todos os lados, não há como escapar, no jornal, na TV, na conversa, no trabalho. Passei as últimas 15 horas traduzindo um pedaço de um jogo de computador gigantesco, chamado Splinter Cell, que vai ser lançado em fevereiro, história do Tom Clancy, tema espionagem. Claro que o lançamento mundial será para as versões em ingrês, francês e espanhol, não para a brasileira.

Mesmo pegando o bonde andando, dá para ver que no jogo é tudo igualzinho a filme de espionagem da guerra fria, misturado com operações militares, ou seja, guerra quente. E o forte continua sendo as bugigangas tecnológicas e de comunicação, só que agora triplicadas em número e complicação. Os americanos protagonistas são basicamente pencas e pencas de militares, policiais, hackers, agentes da CIA e FBI, ou seja, a eterna elite tecnokillercrata dos EUA.

Imagina, uma pessoa brasileira que passa a vida bundando na cadeira, vendo só telejornal, filminho de tv, blockbuster no cinema e jogando jogo de computador feito pra menino, vai pensar que lá na Ameryka só existe esse tipo de pessoa. Lá não tem professor, gari, estudante, médico, artista, fazendeiro, chef de cozinha, mendigo, nada, só milico, polícia e geek.

No jogo você faz o papel do Sam Fisher, espião em missão na Georgia, rodeado de chineses maus e russos nojentos. A pinta dos russos é uma maravilha – em vez dos velhos burocratas soviéticos, agora eles são ou mafiosos, ou mercenários, ou terroristas, ou fantoches dos gringos.

E mais: amigos, eu sei porque traduzi – a palavra que mais aparece na coisa toda é segurança. Até a grã-fina das narinas de cadáver perceberia o tanto que essa palavra aparece. Argh, os caras são histericamente obcecados com isso.

E chega de americanos 24 horas por dia, quero ficar sabendo o que acontece em Tokelau! E viva a indiana Arundhati Roy e também o inglês John Le Carré, que escreveu um artigo expondo a loucura do governo Bush pré-guerra, saiu na Folha dia 26 de janeiro.