a r q u i v o

7.3.03

adaptação, do spike jonze:

o filme q estamos assistindo é o roteiro q o charles tá escrevendo? é.

e enquanto isso, na paralela, via flashback, a gente vai acompanhando toda a historia da meryl streep, ela indo em campo pra fazer a materia pra new yorker, conhecendo o cara banguela e a magia toda em torno da orqídea rara. a materia fica tao boa que a revista pede pra ela escrever um livro e daí q ela gruda mesmo no banguela e com isso ficamos sabendo tb toda a historia dele, q a mulher morreu, q ele tinha uma chacara de plantas, q ele enjoa das coisas etc. e que a meryl se apaixona por ele e chega a ver a tal orquídea rara, mas isso ela nao conta no livro que escreveu, ela esconde essas emocoes e outros fatos.
o filme q estamos assistindo sempre nos mostra antes o que o charles comenta depois. assim, a gente sempre consegue saber do que ele está falando. enquanto isso, o donald irmao gemeo do charles, q flui pela vida leve e solto, mais raso que um pires, resolve do nada escrever um roteiro. o charles, com grande piedade, pq é denso e artístico e portanto se acha superior ao irmao, vai apontando o amontoado de clichês q ele tá enfiando no tal roteiro. o donald ouve com respeito e admiracao, muda uma coisa aqui e ali, mas mantém seu estilo proprio e acaba q vende o roteiro rapidamente, por milhoes. o charles fica perplexo com isso. ele continua empacado no seu proprio roteiro, adaptação do livro da meryl streep, é um fudido, feio, travado, q aos 40 anos nao tem coragem de ir falar com a autora do livro, por quem ele foi se apaixonando platonicamente. ele fala, “droga pirei tanto que me coloquei dentro do roteiro como personagem, nao sei mais o que fazer”. e daí resolve ir espiar o curso do roteirista que ele esnobava e achava picareta. e o professor de roteiro raposa velha detecta no ato q ele tá travado pq o roteiro dele não tem conflito. e então ele pede ajuda pro irmão, que diz sim. então o donald vai conversar com a meryl, fingindo ser o charles e faz ela confessar todas aquelas emocoes q ela nao revelou no livro. bingo, eis o conflito.

e aí o filme muda. que filme? o filme que estamos assistindo. do nada, a meryl streep cheira uma tonelada de pó roxo de orquídea, cata uma espingarda e sai correndo atrás do charles, roteirista do seu livro, pra matar ele!! vc pula na cadeira e grita, “quê isso?? ela era uma solitária lânguida e melancólica e agora pula pra lá e pra cá q nem um cabrito??" e entao percebe q o q está acontecendo é q o donald entrou na parada e o filme q estamos assistindo agora é o filme roteirizado por ele. quando o roteiro era só do charles, o filme era introspectivo, com voz em off narrando tudo. agora, o donald tb se enfia no roteiro como personagem e transforma o filme num filme de ação, com tiro, perseguicao de carro, pantanos com crocodilos q mastigam homens banguelas, emoções gritadas, palavrões, ofensas, mortes. de pretenso cult o roteiro vira um potencial blockbuster.

mas acontece q o donald morre, acho que é o banguela que atira nele. mas por que ele morre? isso me intrigou. no começo do filme, dentro do apartamento, nao fica claro se o donald é um gemeo de verdade ou se é alter ego do charles. aí, conforme o filme passa, vc vê através da “vida real” deles, q eles sao mesmo duas pessoas, aparecem juntos em público, várias pessoas se relacionam com eles, chamam cada um pelo seu nome, q aos olhos de todos o donald é extrovertido e o charles é tímido etc. mas.... como o donald morre no fim do filme/roteiro sem um motivo forte pra que isso aconteça é impossível não pensar que ele é sim o alter ego do charles, não no plano da narrativa, mas no plano da mensagem. ele morre qdo o charles desata os nós, expondo no roteiro o seu próprio conflito -- o de não conseguir adaptar o livro e partir para a saída de se incluir no roteiro etc. no fim do filme, ele consegue terminar o roteiro e até começa a namorar aquela pretê do começo.

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