as horas, baseado no livro de michael cunningham
eu nao li mrs. dalloway e as horas conversa 100% com esse livro. dá pra ver o filme sem problema, porque é mais fácil ver um filme, mas o livro as horas eu comecei a ler e perdi o interesse, porque o autor parte do princípio que você obviamente leu mrs. dalloway e se você não leu, dane-se.
mas o filme é muito bem-feito, a história é muito bem contada, a montagem é cheia de imaginação. tem direção de arte e fotografia e vestuário pedaçudos. a narrativa é complicada, caminha em 3 paralelas, comparando a historia de 3 mulheres -- virginia woolf (nicole kidman) em 20, uma dona de casa (julianne moore) em 50 e uma editora (meryl streep) em 2000. uma certa hora duas paralelas se cruzam, mas aí tem que ver o filme. os homens de primeiro plano são gays. os heteros ficam em segundo plano e são maravilhosos no caráter, amorosos, dedicadíssimos a suas mulheres. parece uma inversão (e deve ser mesmo).
e as mulheres dominam a parada por muitas sequencias de muitos minutos. tanto é que quando apareceu o primeiro homem em close eu quase aplaudi de pé, foi um recreio, porque a problematica das tres mulheres é de uma melancolia abissal, um oceano de autocomiseração e fragilidade, aquela coisa que as mulheres são mesmo, em maior ou menor grau, uma espécie de esponja emocional que absorve as dores do cosmos inteiro.
a-r-r-e! é duro de aguentar. eu nao parava de chorar, é impossivel nao se afetar com tanta infelicidade. imagina uma mulher grávida (julianne moore) que se tranca num quarto de hotel pra cometer suicídio. tudo bem que ela desiste, mas dá pra imaginar uma situação mais triste que essa? o tal michael cunningham escolheu a dedo as infelicidades femininas top-ultra-premium. a virginia woolf se matou na vida real, de melancolia patológica; a meryl streep no filme é uma lésbica que vive há dez anos com uma mulher, mas na verdade quem ela amou a vida inteira é o poeta gay interpretado pelo ed harris. e a uma certa altura ficamos sabendo que o sentimento é recíproco (?!), mas aí, claro, é tarde demais.
a única pessoa alegre no filme é a claire danes (e a única pessoa jovem também), que faz o papel de filha da meryl streep. uma hora que a meryl tá contando sobre um amigo que está infeliz, a claire danes fala, "mas mãe, todos os seus amigos são infelizes sempre". hahaha, e é a pura verdade e ela me inspirou tanta cumplicidade que, com todo o respeito que o filme demanda, de repente me vi dando aquela reduzida na coisa toda, até chegar no nível da sinopse -- burgueses brancos americanos de meia-idade atolados nas suas tragédias pessoais, que não são tão diferentes das tragédias pessoais de outros mortais, mas eles acham que são. não estou falando da virginia woolf, lógico, estou falando do filme. e aí pegou, mas o filme já estava nos créditos.
ah, achei bem tolo o nariz postiço da nicole kidman. basta ver uma foto da virginia woolf pra ver que ela não tinha a napa larga que inventaram pro filme. mas acho que foi esse nariz que ganhou o oscar.
a r q u i v o
24.3.03
Postado por
jupix
às
9:37 PM
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